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Ramiro Batista

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Tudo é deboche e nada é simples em Quentin Tarantino

9 de fevereiro de 2013 por Ramiro Batista Deixe um comentário

Christoph Waltz como o caçador de recompensas que deveria ganhar o Oscar de protagonista

Na cena mais engraçada de Django, um bando de mascarados a cavalo, espécie de predecessores da Ku-Klux-Klan, na iminência de uma emboscada para matar um escravo foragido e seu comparsa, embarcam numa discussão absolutamente idiota sobre a qualidade das máscaras. O patrão, um fazendeiro em busca de vingança, reclama que enxerga mal com aquela porcaria, alguém diz que foi a mulher de fulano que as confeccionou, o marido da dita cuja se sente ofendido, outros se queixam e rola um quiprocó para decidir se vão ou não usar as máscaras para cumprir a missão.

Esse deboche sobre o quão ridícula pode ser a opressão, seja a escravagista em Django, a nazista em Bastardos Inglórios, a da Máfia em Pulp Fiction ou a feminina em Kill Bill, é  que faz dos filmes de Quentin Tarantino algo menos simples do que aparentam. Esse sujeito meio maluquete que já foi chamado de liquidificador pop, que adora e conhece tudo de filmes populares – dos western Spaghetti aos Kung Fu – é sempre uma porrada bem dada nos diferentes tipos de imbecilidade humana, num banho hilariante de violência e humor negro.

A história aqui é simples, linear e de fácil compreensão, sem a fragmentação de seus outros filmes. O escravo Django é libertado por um caçador de recompensas interessado no seu apoio para caçar determinados homens brancos e pede de volta ajuda para resgatar sua amada de uma fazenda escravagista. Como os dois vão chegar à fazenda de um sujeito perverso, se passando por compradores de escravos, e sair de lá sem despertar suspeitas e alguns tiros, é o que empurra os anti-heróis para o confronto que pode desandar.

Como nada é simples em Tarantino, porém, o caçador de recompensas é alemão e se encanta pela história da escrava, que também fala sua língua, e se vê envolvido num conto de fadas germânico – a lenda da princesa Bunhilde, presa numa montanha e protegida por um dragão, à espera de ser salva por um príncipe. A viagem de volta desse príncipe negro acolitado por um sujeito culto cheio de mandinga, que cruza com negros tão opressores como os brancos, permite uma série de leituras sobre a ridicularia das estruturas de poder escravocratas. Sem deixar de divertir como nos bons spaghetti italianos dos anos 50, que geraram o Django original. (Franco Nero, o tal, e seu diretor Roberto Cobucci são homenageados aqui.)

Acrescente-se a capacidade de incluir um falatório afiado, quase sempre desnecessário à trama, mas saboroso, a sangueira e a violência banal que se tornou sua marca e seu principal instrumento de zombaria. Nada melhor que um spaghetti, em que o mocinho dá 400 tiros com um revólver de seis balas (ou um Kung Fu, em que uma samurai despedaça umas centenas de adversários, como em Kill Bill), para espalhar sangue e deboche sobre tudo, inclusive o arsenal de referências em que é mestre.

Sem contar a trilha sonora motivo de riso, pela mistura inusitada de ritmos, e os desempenhos arrebatadores que arranca de seus atores. Samuel L. Jackson, magistral como o assassino que pregava versículos bíblicos para suas vítimas antes de matá-las, em Pulp Fiction, está de volta como um escravo velho, sórdido e puxa-saco do senhorio. Papel de Leonardo di Caprio, a encarnação da maldade cínica como um senhor de escravos que patrocina lutas de morte entre eles, como no coliseu romano.

E tem, claro, Christoph Waltz. O ator austríaco apareceu para arrebentar de uma vez só no longo diálogo sibilino e cheio de nuances que abre Bastardos, na pele de um oficial nazista sinuoso que tenta desmascarar o chefe de família que esconde judeus no sótão. No papel agora do caçador de recompensas alemão, tutor e comparsa de Django, irônico, solto e despachado, carrega quase todo o filme nas costas. É candidato a melhor coadjuvante no Oscar, naquele tipo de atuação arrasadora que deixa o protagonista (o Django de Jamie Foxx) em segundo plano.

Enfim, mais uma história leve e engraçada, de trilha saborosa, recheada de diálogos afiados e atuações arrebatadoras, cheia de referências ao cinemão que animou as tardes de uma geração.

Ou mais um Tarantino legítimo. Que nunca é simples. Que é sempre leve, engraçado e instigante. E que, com apenas uma meia-dúzia de filmes definitivos, consolidou em menos de 20 anos uma das mais consistentes e influentes carreiras de Hollywood.

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Sobre Ramiro Batista

Sou escritor e jornalista formado em Letras e Literatura, Comunicação e Marketing, experiente em escrever, editar, publicar, engajar e promover pessoas e ideias. Compartilho tudo o que sei sobre o uso de ferramentas de comunicação para conquistar e manter poder.

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