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Ramiro Batista

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O que tem de Ozymandias no roteiro vencedor do Emmy

1 de setembro de 2014 por Ramiro Batista Deixe um comentário

Reprodução Youtube
Walt White desaba sob o peso de suas ilusões de poder, como no poema de Shelley

Ozymandias é o nome de um poema famoso de 1818, do poeta romântico americano Percy Bysshe Shelley, sobre alguém que contempla o monumento de Ramsés II no meio do deserto para refletir sobre as ilusões do poder.

“Meu nome é Ozymandias, reis dos reis,
Contemplai minhas obras, ó poderosos, e desesperai-vos!”
Nada resta: junto à decadência
Das ruínas colossais, ilimitadas e nuas.
As areias solitárias e inacabáveis estendem-se à distância.

Inspirou autores da literatura e do cinema nos quase duzentos anos desde então e também o antepenúltimo episódio da quinta e última temporada de Breaking Bad, roteiro vencedor do Emmy 2014.

Certamente por resumir com brilhantismo nos 40 minutos de alta potência a proposta dramática desse já clássico dos clássicos dos seriados americanos: a transitoriedade do poder, a precariedade de sua segurança, a consciência de seus falsos valores.

Um episódio de alta octanagem dramática

Numa cena que remete direto a outro momento do poema, o protagonista desaba sob o peso de suas ilusões no meio do deserto, algemado, depois de encurralado entre traficantes e policiais que enganou durante as cinco temporadas:

– Perto delas na areia, meio afundado, jaz um rosto partido…

É Walter White, um professor de Química que começa a fabricar uma droga ilícita (metanfetamina) para cuidar da família e vai perdendo a noção de limite até virar um importante chefe do tráfico. No meio do deserto, no ponto crucial da história, é confrontado com o drama de decidir sobre a morte do policial da Delegacia de Narcóticos, nada menos que seu cunhado.

É um episódio de altíssima octanagem, que vai levá-lo à virada que conduzirá à solução, dois episódios depois. Mas, principalmente, à consciência do desvario que o levou de um homem pacato ao posto mais elevado da indústria do tráfico, na fronteira com o México, pela vaidade de se sentir importante, mesmo destroçando tudo em volta, principalmente o bem que mais lamenta: a família.

Pequenas revoluções na arte e contar uma história

É possível que o prêmio tivesse vindo só por isso, o que já seria muito. Mas o episódio encapsula também boa parte das pequenas revoluções que a série fez na arte de contar uma história.

Num roteiro comum, ele sairia da solução dada ao confronto  – a pior possível – e iria, como que com uma câmera na cabeça, do ponto de vista do herói,  confrontar a cunhada e a esposa. Mas o ponto de vista vira e é a cunhada que toma conta da história em seguida: vai procurar a irmã para informar das descobertas sobre as atividades de seu marido, obrigá-la a contar sobre a vida dupla ao filho adolescente e agravar a expectativa do encontro de todos ao final.

É inquietante saber que as duas estão tomando providências dramáticas que, àquela altura, sabendo-se do desfecho, já não tinham importância. E é a mulher e o filho que vão confrontá-lo na sequencia final em que o destino dos três será traçado. Em que todo o caráter das más ilusões é desmoralizado e o protagonista vai desabar de novo diante da consciência dos estragos que fez.

– Que diabos estamos fazendo! Nós somos uma família! – E deixando cair, trêmulo e gaguejante, a faca ensanguentada de seu último limite: – Uma família…

É um dos tantos exemplos de um tipo de roteiro que tira tudo do lugar, mesmo que respeite os cânones do modelo consagrado de Hollywood, em que alguma coisa empurra o herói aos 25% da trama e o coloca numa encruzilhada que vai decidir sua vida, aos 75%. Muda pontos de vista, cruza tempos diferentes, dá ênfase a fatos banais aparentemente sem sentido mas que vão ampliar a carga de toda a violência gratuita e sem sentido. (Preste atenção no menino que cata caranguejos na abertura de um dos episódios seminais em que precisam roubar a carga de uma locomotiva.)

Veja meus textos anteriores sobre Breaking Bad:

  • Grandes Personagens meio tontos em busca de um sentido
  • A força do silêncio nos diálogos enxutos em Breaking Bad

Impressionante é que tenha sido escrito por uma quase iniciante no ramo. Ex-atriz de seriados, Moira Walley-Beckett havia escrito apenas um episódio para televisão antes de entrar para  o grupo de roteiristas do seriado, divididos entre editores, produtores e produtores executivos, liderados pelo criador Vince Gilligan. Começou como editora e acabou escrevendo sete episódios sozinha, alguns já premiados.

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Sobre Ramiro Batista

Sou escritor e jornalista formado em Letras e Literatura, Comunicação e Marketing, experiente em escrever, editar, publicar, engajar e promover pessoas e ideias. Compartilho tudo o que sei sobre o uso de ferramentas de comunicação para conquistar e manter poder.

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