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Ramiro Batista

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O fator Galvão Bueno. Por que sentimos falta da voz dele?

14 de julho de 2014 por Ramiro Batista Deixe um comentário

Foto Reprodução de vídeo do Globo Esporte
Galvão Bueno: trilha como o risco enlatado que enfatiza os momentos de tensão para o telespectador disperso

Passados alguns minutos do início de Brasil e Chile, me dei pela falta da voz de Galvão Bueno com suas ênfases, advertências ou lamentos em momentos de tensão:

– Olha a booommmba!

De repente, todos na sala cheia se deram conta de que o dono da casa havia trocado de canal. Quase em coro, numa reação em cadeia, passaram a pedir o retorno à Globo e a retomada do que, para a maioria, deve ser o som original e insubstituível das partidas da seleção.

Desde então passei a me encucar com essa estranha relação de amor e ódio com o locutor que as torcidas adoram odiar, mas contra a qual só uma minoria consegue reagir e trocar de canal. E cheguei à conclusão de que se trata de um tipo de dependência. Invisível e involuntária como todas outras e, por isso mesmo, mais difícil de superar.

É a mesma que temos sem o perceber das claques de auditório, da música nas novelas e daqueles risos enlatados dos programas humorísticos. Uma espécie de trilha sonora que sublinha os momentos marcantes de uma apresentação, uma cena dramática ou uma piada, e nos lembra de que algo importante aconteceu ali.

O riso enlatado é a melhor referência.

Estudiosos do assunto ainda se impressionam que os executivos das emissoras resistam a acabar com esse simulacro  tão anacrônico, óbvio e sabidamente falso. Artistas abominam por colocar em dúvida sua capacidade de motivar, e o público esclarecido detesta por julgarem-no incompetente de  decidir se uma piada é ou não engraçada.

Estudiosos do assunto atribuem o fenômeno à necessidade de aprovação social, que leva as pessoas à cumplicidade involuntária com a maioria, e a tendência humana à zona de conforto que dispensa o esforço de pensar por conta própria.

O sábio pragmatismo dos executivos de TV, porém, se baseia em pesquisas. Em Laughter: A Scientific Investigation, de 2000, o neurocientista americano Robert Provine provou que essa claque gravada provoca mais risos, estende o tempo das gargalhadas e torna piadas, mesmo ruim, melhores.

Minha tese é a de que, como a audiência da TV é volúvel e os programas disputam atenção com outras tarefas do telespectador, a programação depende desses mecanismos de ênfase, em que Galvão é mestre:

– Oooolha o lançameeeeennnnntooooo!

– Jogou na áááááreaaaaaa…

– Ó, ó, olha o rebóóóóóte!

Nessa hora, deixamos o que estivermos fazendo para ver do que se trata e conferir o replay para que ele complete as informações.

É a mesma da música grave que anuncia o perigo na novela ou o riso falso a informar que, sim, ali teve uma piada. Nessa hora, como não tem replay, olhamos para alguém do lado e perguntamos o que houve.

O fenômeno é antigo desse tipo de audiência solidária, desde que as donas de casa viam novela fazendo jantar e os homens viam partidas tomando cerveja, comendo tira-gostos e conversando com os amigos. De uns tempos para cá, piorou com com a competição desigual com celulares e tablets, navegados ao mesmo tempo.

Só mesmo quem o ouve de atenção concentrada, solitário e em ambientes isolados, a ponto de filtrar seus comentários além das ênfases de trilha sonora, são capazes de enfrentar a dependência e mudar de canal.

E por que Galvão?

Fora a voz suave de barítono e a experiência que automatizou seus gritos quase a tempo de prever o perigo, ele tem a seu favor o monopólio da Globo que o coloca dentro das casas dos brasileiros, em decisões cruciais, há mais de 30 anos.

Independente da qualidade de suas informações e das besteiras inevitáveis numa transmissão de duas horas que trairia qualquer um, sua voz acabou relacionada a uma trilha de suspense para a tensão ou resolução desses conflitos. Um papel que Luciano do Valle, no mesmo posto e na mesma emissora, representou enquanto esteve nele.

É bem possível que, se suas intervenções fossem gravadas, fariam o mesmo efeito. Com a tecnologia disponível que hoje é possível dar voz de locutores aos comandos do GPS, por exemplo, a Globo poderia gravar todas as possibilidades de perigo, incluindo os nomes dos jogadores, em spots que o diretor de TV dispararia a cada jogada:

– Vai, vai que é tuaaaaaaaa… Subiiiiiiuuuuu! É tiiiiiro de meta…

Um tipo de narração enlatada que, com o tempo, a gente se acostumaria. E não correria o risco da abstinência.

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Sobre Ramiro Batista

Sou escritor e jornalista formado em Letras e Literatura, Comunicação e Marketing, experiente em escrever, editar, publicar, engajar e promover pessoas e ideias. Compartilho tudo o que sei sobre o uso de ferramentas de comunicação para conquistar e manter poder.

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