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Ramiro Batista

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Harper Lee deveria ter rasgado os originais de O Sol é Para Todos

19 de fevereiro de 2016 por Ramiro Batista Deixe um comentário

Divulgação
Attus Finc, mito do idealismo americano, é racista ranzinza nos originais liberados por Harper ao fim da vida

Harper Lee, morta nesta sexta-feira aos 89 anos e conhecida por aqui como amiga inseparável de Truman Capote no filme de 2005, escreveu apenas um livro. Nada menos o que já foi considerado o segundo mais influente dos Estados Unidos depois da Bíblia, com vendas de 40 milhões de exemplares e renda anual de US$ 3 milhões para sua autora.

Publicado em 1960, O Sol é Para Todos (To Kill a Mockinbird) conta a história de um advogado que defende um negro acusado de estupro de uma branca, no Alabama racista da Ku Klux Klan dos anos 30. O advogado impoluto, justo e generoso Atticus Finch, vivido no cinema por Gregory Peck, virou o protótipo do americano tolerante e idealista a ponto de ser confundido com sua identidade no imaginário do país.

Só que, ao fim da vida, ela dinamitou esse mito ao autorizar a publicação dos originais que lhe deram origem:  Go Set a Watchman (Vá, Coloque um Vigia), que vendeu mais de 1 milhão de cópias só na primeira semana de lançamento nos Estados Unidos, em julho passado.

Eles haviam sido rejeitados por se passar na mesma época de escrito, anos 50, quando começava a ganhar corpo a luta pelos direitos civis que desaguaria em Martin Luther King e todos os movimentos de emancipação racial da década de 60.

Por uma conveniência branca, ato político ou instinto comercial, o editor lhe sugeriu situar a história nos anos 30, quando a segregação estava consolidada e ainda não havia resquício de reação.

O que, visto em retrospectiva, parece ter-lhe ajudado a construir um romance mais denso e menos maniqueísta. Nesses originais publicados agora, Atticus Finch é um racista, um ranzinza crítico dos movimentos de libertação, que não aceita a decisão da Suprema Corte de acabar com a segregação nas escolas.

Em O Sol é Para Todos, reescrito para atender ao editor, se trata de um grande personagem em conflito num ambiente onde se chocavam os ovos da inquietação.

Grande editor, é de se imaginar.

Alta traição

Também em retrospectiva, é possível avaliar que os originais deveriam ter sido destruídos e não guardados por 55 anos, a chave, como acabou sendo.

Já se gastou muita tinta para condenar a publicação de originais rejeitados por seu autores ou descobertos por seus parentes depois de mortos. Se o escritor não aprovou a obra enquanto vivo, não é justo que alguém faça por ele depois.

No cinema, é tido como alta traição reedições com reduções ou acréscimos, quase sempre acréscimos, que deterioram o que a sabedoria popular consolidou com sua devoção. É clássico é o caso de Apocalipse Now, de Francis Ford Copolla. Acrescido de cenas expurgadas, esticou e deu explicação algo didática ao que, no original, acentuava a violência gratuita, a estupidez e a falta de sentido dos personagens num mundo sem lógica.

Ainda não se tentou explicar por que os escritores resistem a rasgar, hoje deletar, seus originais rejeitados. Por que correr o risco de ser traído por um parente inescrupuloso ou ser premido por circunstâncias fora de seu controle no futuro?

Minha tese mistura insegurança sobre seu juízo (“vai que não é tão ruim com eu imagino”), alguma vaidade post-mortem em que todos os erros são perdoados aos gênios ou simples apego a algo que lhe consumiu tempo, em geral anos, energia, lágrimas, noites mal dormidas.

Vaidade ou dinheiro

No caso de Harper Lee, não se sabe se ela seguiu seu instinto de escritora, vítima de uma alguma vaidade perdida ou de tentativa de corrigir o que, no fundo, era no que acreditava. Ou apenas, já cega e meio surda num asilo, se rendeu à sanha de uma advogada pragmática que viu muito dinheiro a vista.

O problema é vender por dinheiro um ícone tão caro à memória nacional.

Como diz o brilhante editor especial de Veja, André Petry, no artigo que inspirou este, a mudança que desmanchou Atticus Finch quebrou o espelho americano e tocou no nervo exposto da vida americana – a questão racial. Deixou em aberto uma pergunta mais grave que questiona todo um edifício de caráter:

– O Atticus racista de 1950 seria uma reação vingativa à emancipação dos negros enquanto o Atticus de 1930 seria a tolerância em pessoa porque os negros ainda sabiam o seu lugar?

É um direito de Harper Lee se resolveu vender barato ou um azar se foi iludida por sua advogada. Mas morre um pouco menos nobre do que se tivesse rasgado o rascunho ou, na pior hipótese, jogado fora a chave do cofre.

Vejamos se, morta, o julgamento da história lhe seja menos severo.

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Sobre Ramiro Batista

Sou escritor e jornalista formado em Letras e Literatura, Comunicação e Marketing, experiente em escrever, editar, publicar, engajar e promover pessoas e ideias. Compartilho tudo o que sei sobre o uso de ferramentas de comunicação para conquistar e manter poder.

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