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Ramiro Batista

Política, Comunicação e Escrita Criativa

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Por que Glória Pires não sofre do vírus do ultracrepidanismo

1 de março de 2016 por Ramiro Batista 4 Comentários

Reprodução TV Globo

Não sei você e estou certo de que Glória Pires não, mas eu sofro de ultracrepidanismo. 

É uma síndrome típica dos jornalistas mais antigos que, em em grau avançado, faz de seu portador um “especialista em generalidades”, com a pretensão de saber e opinar sobre tudo.

Minha principal referência de paciente contaminado era Paulo Francis, o mais equipado dos jornalistas da minha geração, capaz de falar com profundidade sobre qualquer assunto, de literatura a psicanálise, de teatro a física quântica, de antropologia a horóscopo.

Era de tal forma arrogante, montado em tanto conhecimento, que se dava à pretensão de tomar como inexistente o que não sabia.

— Se não tomei conhecimento, não deve ter importância.

Também gosto de exercitar aqui e sobretudo em minha página no Facebook uma salada informativa, a “metamorfose ambulante” com “aquela velha opinião formada sobre tudo” de que falava Raul Seixas. Agravada com o enorme prazer de escrever sobre o que não entendo, como lógica do caos e embalsamamento de cadáveres.

Num dos meus textos iniciais para o site Uai, em 2012, me meti a explicar melhor do que as agências internacionais de notícias do que se tratava a partícula de bóson:

>>> Ajudando as agências a explicar o bóson de Higgs

Expandida como epidemia para as redes sociais, onde neófitos de todo o tipo se juntaram a jornalistas prepotentes, está catalogada como hábito na Wikipedia: “o hábito de expressar opiniões ou dar conselhos em assuntos para além do conhecimento próprio”.

Que deriva da pretensão de achar que, se você é bom alguma coisa, pode ser bom em tudo, como explica Pense como um Freak, de Steven Levitt e Stephen Dubner, autores dos best-sellers sobre a economia do cotidiano Freakoconomics SuperFreakonomics.

Eles cruzaram um monte de pesquisas e previsões fracassadas de economistas e metereologistas para explicar as dificuldades que mesmo líderes, autoridades e celebridades têm de dizer que não sabem alguma coisa.

— Na maioria dos casos, o preço de dizer “Não sei” é mais alto que o estar errado.

É um tipo de mecanismo reativo para proteger a reputação, muito bem exemplificado no caso do jogador diante do gol e do estádio cheio, com a responsabilidade de bater o pênalti que vai decidir o campeonato.

As estatísticas indicam que os goleiros saltam em 57% das vezes para a direita e 41% das vezes para a esquerda. Só 2% ficam no meio. Ele terá 7% a mais de probabilidade de acertar se chutar no meio, mas um erro aí, embora estatisticamente mais difícil, é mais vexatório que no canto.

Ali, à direita ou à esquerda da trave, ele pode ser computado à sorte do goleiro. Para proteger sua reputação, ele vai pelo senso comum e a opinião da maioria. E chuta nos lados.

Daí porque vi com a maior simpatia a participação lacônica da atriz Glória Pires como comentarista durante a transmissão do Oscar 2016 pela Globo.

Macaco velho de seu auditório e de sua integridade profissional, não duvidei de que fosse capaz de dizer “não sei” e de ir contra o senso comum, esse ato comprovado cientificamente de coragem que os velhos jornalistas e os ativistas de sofá das redes sociais não são capazes.

Foi só um caso de pessoa errada no lugar errado. Se foi convidada a fazer algo além de sua competência — comentar filmes e não atuar neles —, não deveria ter aceito. Ou feito um mínimo de dever de casa. Tratou-se de leve recaída ultracrepidanista.

Como estou fazendo agora. Pesquisei para falar sobre o assunto que fiquei sabendo só de ouvido, porque, pela primeira vez, assisti todo o evento, sem interrupção na TNT, onde a tradução e a informação fluem sem o palavrório da Globo.

E porque, claro, com o vírus do ultracrepidanismo saltitando nas veias, eu não poderia ficar de fora dessa.

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Arquivado em: COMPORTAMENTO, COMUNICAÇÃO VERBAL, CULTURA & COMPORTAMENTO, MÍDIA e PODER Marcados com as tags: análise do discurso, como convencer, como conversar, discurso indireto, discurso mitigado

Sobre Ramiro Batista

Sou escritor e jornalista formado em Letras e Literatura, Comunicação e Marketing, experiente em escrever, editar, publicar, engajar e promover pessoas e ideias. Compartilho tudo o que sei sobre o uso de ferramentas de comunicação para conquistar e manter poder.

Reader Interactions

Comentários

  1. Ana Villela diz

    14 de fevereiro de 2022 em 15:14

    Tenho pensado nisso, inclusive por que saio dando opinião em assuntos dos quais não sou especialista. Mas como seria se só os especialistas pudessem dar opinião? Eles já tem a vantagem de poder discutir com seus pares. E que não é especialista em nada, não comenta mais sobre nada?

  2. Adriana Fernandes diz

    2 de março de 2016 em 14:03

    Se ela aceitou estar ali, ela tinha por obrigação assistir a todos os filmes e desenvolver crítica sobre eles. Não tem obrigação nenhuma de entender de cinema, então que tivesse a fineza de recusar o convite.

  3. Ramiro Batista diz

    2 de março de 2016 em 09:30

    Procede sua crítica. A intenção era dizer “fora da competência de comentarista”. Pode-se ser grande atriz e não ter a menor competência para comentar. Mas o texto merece mesmo uma retocada, que farei com prazer, agradecendo a atenção e a correção.

  4. Benny diz

    2 de março de 2016 em 07:41

    Delicioso texto, como sempre, Ramiro. Mas não entendi a parte do “pessoa errada no lugar errado para comentar assunto fora de sua competência”. A moça é atriz e já atuou no cinema. No mínimo alguma opinião sobre o que disse ter visto ela deveria ter, algo mais robusto ou consistente do que “não sei opinar”…

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