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Ramiro Batista

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Delação, como o estupro e o anonimato, está formando um novo caráter?

1 de junho de 2016 por Ramiro Batista 1 comentário

Delação, como estupro e anonimato, está formando novo caráter?
Sérgio Moro: delação como higienização da classe política, mas para sempre? (Foto Fábio Pozzebom / Agência Brasil)

Tem-se falado numa cultura do estupro como um traço de personalidade que vai se incorporando ao caráter nacional, algo que a leniência e certo relativismo do papel da vítima vai tornando parte da paisagem.

Estaria havendo o mesmo com a delação premiada, que, para o bem ou para o mal, têm produzido uma coragem inesperada e um acerto de contas até então estranhos ao espírito nacional da cordialidade e do jeitinho?

Espécie de estupro metafórico, a delação é uma espécie de prima-irmã de outra grande invenção do nosso tempo, o anonimato nas redes sociais, cujo impacto em nosso comportamento e das próximas gerações ainda não foi devidamente avaliado.

A coragem inesperada por trás do mouse para combater o adversário sem mostrar a cara é causa, reflexo ou alimento da toxicidade do debate político que cindiu o país. Provoca novas posturas das pessoas públicas e transformações sem volta nos nossos costumes políticos.

Nunca mais fomos os mesmos depois da facilidade com que se detonam reputações na que alguns chamam, não sem alguma razão, de “esgotosfera”.

Também produto de um surto de coragem inesperado, advindo do desespero de uma punição inédita nos costumes pátrios, a delação está provocando a mais potente arma de destruição em massa de reputações e contribuindo para a mais impressionante higienização de certos métodos de apropriação da máquina pública para fins pessoais.

Juntos, a ideia de um grande estupro coletivo em que se misturam delação e anonimato deixam todos mais alertas, com um medo até então desconhecido em nosso caráter de fazer coisa errada, de atravessar o sinal de trânsito a pedir recibo em branco.

É bom ou ruim?

Delação e “colaboração”

Por natureza, não gostamos — não gostávamos — de delatores. A começar da ideia que temos dos dois principais símbolos que frequentam nosso imaginário: Judas Iscariotes e Joaquim Silvério dos Reis.

O termo apareceu pela primeira vez no noticiário político, descarnado, cru e estranhamento associado a meios subterrâneos para atingir fins nobres, em 1989,  quando se divulgou que o delegado Durval Barbosa gravara o governador de Brasília José Roberto Arruda e seus aliados recebendo propina no que ficou conhecido como Mensalão de Brasília.

O deputado Roberto Jefferson, que detonara todo o processo do Mensalão às claras, chegou a dizer que jamais faria delação premiada por achá-la coisa de covardes. Em tom mais ou menos semelhante, a presidente Dilma Rousseff disse mais de uma vez que nunca respeitou delatores.

Com sua regulamentação em 2013, o tempo e a prática, porém, a delação foi se incorporando ao léxico e à vida como a luz do sol que higieniza as roupas no varal, a ponto de até ir se convertendo num epíteto mais palatável.

Os jornais que pareceram duros ao carimbar  o termo na testa desses negociantes de penas mais brandas em troca da desgraça do outro já falam em “colaboradores” da Justiça, ao invés do mal visto “delatores”.

É bom ou ruim?

Não sei se é o caso de ser bom, ruim ou inevitável. Ou precisamos de uma explicação rápida para nos aliviar do cansaço desse excesso todo de conspiração, de traição e de estupro, enfim.

Judicialização da vida pública

Do lado bom e no curto prazo, é a primeira, grande e única arma dos jovens procuradores ansiosos por depurar a classe política e acena para o fim do falso mito da cordialidade que camuflou nossas diferenças e nossos arranjos públicos e privados debaixo dos panos, desde a chegada de Cabral.

Do lado ruim, a virar paisagem em longo prazo, pode produzir um clima de desconfiança generalizada que faz de cada um um ao lado um inimigo, uma espécie de judicialização da vida pública em que o vizinho deve ser tratado nos limites da lei, como nos EUA.

Lá, onde o  triunfo do sistema penal sobre a cordialidade faz com que se processe o amigo dono da quadra em que seu filho se machucou, casamentos são antecedidos de contratos financeiros e a guerra para destruir o adversário, na política e nos negócios, é imunda.

Imagino que seja indispensável em tempos de guerra como os que vivemos, à semelhança da suspensão das garantias individuais adotadas pelos americanos quando o país se viu ameaçado de terrorismo.

Mas tenho dúvidas se é algo de que os povos se orgulhem quando incorporada à rotina. Adoramos Sérgio Moro e seus meninos assanhados por fazer Justiça, mas é algo que queremos para o  resto da vida?

Torço para que um dia seja desnecessária, porque significará que o país não precisa mais dela e nem ela se incorporou à nosso caráter. E nem vou precisar ensiná-la a meu filho quando brigar com o coleguinha da escola.

— Olha, filho, vai lá na diretora e delata ele.

Até onde aprendi, é preciso primeiro não fazer coisa errada. Tendo feito, é arcar com dignidade com sua culpa e deixar que as ferramentas da Justiça — e da vontade de Deus, para os crédulos — cumpram seu papel.

Porque, prevalecendo, parece revelar um outro caráter que não é necessariamente melhor do que o anterior.

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Sobre Ramiro Batista

Sou escritor e jornalista formado em Letras e Literatura, Comunicação e Marketing, experiente em escrever, editar, publicar, engajar e promover pessoas e ideias. Compartilho tudo o que sei sobre o uso de ferramentas de comunicação para conquistar e manter poder.

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Comentários

  1. Paulo Manetti diz

    2 de junho de 2016 em 20:39

    Excelente toda a explanação, porém no que diz respeito a atuação do juiz Federal Sérgio Moro, muito me preocupa, pois vejo nele um oportunista, tendo um comportamento não compatível com o cargo que ocupa!!

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