• Skip to main content
  • Pular para sidebar primária
  • Pular Rodapé

Ramiro Batista

Política, Comunicação e Escrita Criativa

  • MEUS ARTIGOS
    • POLÍTICA & PODER
    • MÍDIA e PODER
    • ESCRITA CRIATIVA
  • MEUS LIVROS
  • MEU SITE
  • MEU CONTATO

Documentário da Netflix cria empatia para humanizar Elize Matsunaga

18 de julho de 2021 por Ramiro Batista Deixe um comentário

Diretora de filmes de gênero com foco em violência contra a mulher, Eliza Capai romantiza personagem ao omitir sinais de premeditação do esquartejamento bárbaro

Elize Matsunaga saiu para passear em 2019, pouco mais de seis anos depois de presa por ter matado e esquartejado friamente o marido, Marcos, dono da Yoki.

No passeio, que viria a se repetir em dezembro de 2020 junto a outras duas assassinas famosas — Ana Jatobá e Suzane Richthofen —, virou série da Netflix que a romantiza como gata borralheira .

Nos EUA, por muito menos, tomaria perpétua com apenas direito a sol, se tivesse a sorte de não ir para a cadeira elétrica. Veja na Netflix o documentárioMulheres Assassinas, de Piers Morgan.

Ela pegou só 19 anos e uns quebrados em 2012, reduzidos depois para 16 e poucos, graças à dificuldade da acusação de convencer sobre as circunstâncias de premeditação e a competência da defesa para contar um conto de fadas em que prevaleceu apenas a versão dela.

O júri admitiu sua tese em prantos de legítima defesa e não viu motivo torpe no esquartejamento, já que ele estava morto mesmo depois do tiro que entrou pela fronte e saiu pela boca.

Alegou que vinha sendo humilhada por um cara que não tinha perfil de agressivo, segundo depoimentos de amigos, e apesar do laudo técnico comprovar que ela havia atirado de cima para baixo, de perto, em alguém sem direito de defesa.

Num clima de piedade indiscutível, o júri também não levou em conta antecedentes de uma personagem fria. 

Caçadora, aprendeu atirar com o marido,que mantinha um arsenal de 33 armas, e a desossar animais abatidos, onde pode ter desenvolvido suas técnicas de separar cabeça e membros de um corpo.

Como o veadinho de cabeça empalhada na sala, de que tirou o lombinho para um assado com ervas finas.

— Estava uma delícia — diz.

Mantinha também uma cobra de estimação, a Gigi, que lhe divertia na caça de um rato indefeso, dentro de uma caixa, num dos vídeos da fase doce lar do casal.

O clima de boa vontade em torno da menina pobre oprimida diante de um macho agressivo que a traía se ampliou no documentário, que omitiu os sinais mais evidentes de frieza e premeditação, que está no num documentário mais técnico, Investigação Criminal, disponível no Youtube, também dirigido por uma mulher, Carla Albuquerque.

Comprou uma serra elétrica na véspera, trocou o cano do revólver antes do tiro, decapitou-o ainda vivo, deixou o corpo num quarto fechado entre o desossamento de um membro e outro, para ir dar comida à filha. Também se passou por ele em mensagem de celular para a família e mandou a empregada depositar dinheiro em sua conta, de forma a reforçar as suspeitas de sequestro.

Sendo verdade ou não, a sequência dificultaria o viés de romantização que a diretora Eliza Capai acabou empregando, numa tentativa de criar empatia com a personagem, como ela mesmo admitiu em entrevista ao Estadão.

— Eu queria refletir por que esses crimes ocorrem e como a sociedade e a mídia lidam com eles. O desafio foi fazer uma edição que não esbarrasse no sensacionalismo e que tratasse o caso com empatia e curiosidade a fim de entender a violência de uma forma mais complexa.

Foi com empatia que ela contornou as resistências de Elize a dar o depoimento, em 18 meses de negociação conduzidos com a repórter investigativa Thaís Nunes, e criou o clima com uma equipe só de mulheres que a deixasse à vontade em cena.

Visitaram com ela a casa da avó para as cenas inevitáveis de lágrimas. Diretora de dois documentários de gênero, com foco sobretudo em mulheres vítimas da violência, ela admite que procurou trazer para a série “a discussão do machismo na nossa sociedade”.

Seu incômodo seria a abordagem machista da mídia e da defesa, que apelariam a seu passado de garota de programa para desqualificá-la.

Acabou porém fazendo o contrário, ao criminalizar de alguma forma a vítima indefesa, ainda que tenha se esforçado para “ouvir os dois lados”. O advogado da família admite que o tratamento foi equilibrado, ainda que ressalve algumas das omissões.

Artistas — escritores, roteiristas e diretores de cinema e TV — são assim mesmo. Têm isso de procurar “o lado humano do personagem”, aprofundar nas suas motivações em busca de empatia e entretenimento. 

Sendo competente a abordagem, nos encantamos com anti-heróis como o Odorico Paraguassu de O Bem Amado, o Vito Corleone de O Poderoso Chefão, o Walter White de Breaking Bad.

E nossos artistas, em especial, já vêm há algum tempo projetando tudo no mundo sob o prisma da luta de classes, que dificulta bastante – quando não deturpa – a compreensão da realidade.

Como aqui, em que se trata de vida real e de um documentário que opera, não no plano da ficção, mas da isenção ou de tentativa dela, até onde ela é possível. Diretores trabalham com escolhas na montagem, como jornalistas no encaminhamento de fatos e manchetes.

Em obras de ficção, a manipulação para encantar é elogio. Em produtos de objetivo jornalístico, como documentários, é alto o risco de ser desonesto. Da forma como ficou, as opções políticas da diretora acabaram ficando mais importantes que o fato, como sempre ocorre nesses casos.

E tornou menor ou irrelevante a questão para mim maior, a de um sistema de leis e judicial lenientes, possivelmente também  influenciado pela luta de classes, que, entre outras coisas, facilita a vida de artistas que querem fazer revolução cultural com quem só deveria ter o direito apenas de tomar sol no pátio.

Publicado no Estado de Minas, em 18/7/2021

Posts relacionados

  • Roteiro de Peaky Blinders é trama clássica e vigorosa de máfia
  • Sete filmes sobre jornalismo que honram a profissão de jornalista
  • Dez roteiros de biografias políticas humanasConheça os dez roteiros de biografias políticas que humanizam o poder
  • Todos os Homens do Presidente é aula e referência do melhor jornalismo
  • Dez roteiros de comédias políticas esculhambam o poderDez roteiros de sátiras políticas que achincalharam o poder em 80 anos
  • Muito Além do Jardim explora a imbecilidade coletiva dos tempos da TVMuito Além do Jardim explora a imbecilidade coletiva dos tempos da TV

Arquivado em: ESCRITA CRIATIVA Marcados com as tags: discurso mitigado, escrever roteiro, escrever seriado, melhores diretores, roteiro de série

Sobre Ramiro Batista

Sou escritor e jornalista formado em Letras e Literatura, Comunicação e Marketing, experiente em escrever, editar, publicar, engajar e promover pessoas e ideias. Compartilho tudo o que sei sobre o uso de ferramentas de comunicação para conquistar e manter poder.

Reader Interactions

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sidebar primária

MAIS LIDOS

Gigante bobo e atrasado, Brasil deveria ter sido dividido em quatro

A Mente Moralista e sete desvantagens do discurso ideológico de Lula

Olavo de Carvalho de saias e à esquerda, Rita Von Hunty é estupenda

Comunicação ficou mais importante que arma e dinheiro para tomar o poder

Militância de direita se consolida e é principal adversário de Lula

Patrono da militância, Freire pode ter inspirado o anti senso crítico

Oratória e mente de Messias explicam poder hipnótico de Hitler

VEJA ARTIGOS DESDE 2010

MEU CANAL NO YOUTUBE

https://www.youtube.com/watch?v=UrQE4D29N3A

VEJA MAIS POSTS EM:

 Facebook Twitter LinkedIn Instagram

Footer

  • ESTE SITE
  • POLÍTICA DE PRIVACIDADE
  • LOJA DE LIVROS
  • MEU CONTATO

Copyright @ 2010-2020 - Ramiro Batista.