O Informante atesta mas questiona poder da imprensa contra o sistema

Outro grande filme sobre jornalismo, O Informante (The Insider) põe a prova o poder da imprensa para enfrentar os grandes conglomerados e, de certa forma, o próprio meio capitalista em que ela se insere.

Também baseado num fato real, conta a história da luta travada pelo produtor do Sixty Minutes, Lowell Bergman, para convencer um ex-diretor da indústria do tabaco, Jeffrey Wigand, a violar seu contrato de confidencialidade e tornar pública sua denúncia.

Wigand chegou a dar uma entrevista ao 60 Minutes, em 1994, em que denunciava os poderosos da indústria por alterar os índices de nicotina de forma a agravar a dependência dos cigarros.

Pressionado pelos barões da indústria e temendo indenizações milionárias, o ex-diretor recuou e obrigou também a emissora ao recuo raríssimo de suspender a exibição da entrevista. A tarefa do produtor Bergman, então, passou a ser convencer o ex-diretor a perder o medo.

Tinha tudo para ser um filme de Al Pacino, vigoroso como sempre no papel do produtor do programa referência de jornalismo nos Estados Unidos, apresentado na época por Mike Wallace (Christopher Plummer, no papel). Mas Russel Crowe, de O Gladiador, estava apenas assombroso.

Ele faz um trapo humano, alterado fisicamente como Robert de Niro em Touro Indomável, para encarnar toda a tragédia do indivíduo massacrado pelo sistema. Perdeu o Oscar de para Kevin Spacey, no ano (2000) em que o furacão Beleza Americana, de Sam Mendes, arrebatou a maioria das estatuetas.

O roteirista Eric Roth havia ganho o Oscar de 1994 por Forrest Gump, sobre um sujeito meio lerdo que vive meio perplexo diferentes momentos históricos dos EUA. Viria a ser indicado a outros quatro também por roteiro adaptado, como a nova versão de Nasce Uma Estrela, de 2018.

Afinou com o diretor Michael Mann, co-autor do roteiro, que tem certo prazer por sujeitos obsessivos e filmes policiais. Havia dirigido o excelente Fogo Contra Fogo, com Pacino e Robert de Niro, em 1995, e viria a dirigir os admirados Colateral (2004) e Miami Vice (2006).

Obsessivos e na luta contra o sistema. Razão por que, talvez, o jornalismo aqui também pareça parte dele. E, por isso, sem muita força para confrontá-lo. O filme atesta o vigor da imprensa, mas de certa forma a alinha ao modelo que quer combater.