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Ramiro Batista

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A prisão de Lula e o cadáver itinerante de Evita Perón

6 de abril de 2018 por Ramiro Batista Deixe um comentário

A prisão de Lula e o cadáver itinerante de Evita Perón
Lula e cadáveres políticos, como o de Evita, embalsamado por Pedro Ara (foto Marcela Camargo / Agência Brasil)

Uma das histórias mais macabras da Argentina é o que fizeram com o cadáver insepulto de Evita Perón, a chamada mãe dos descamisados que, no final da década de 40, despertava uma paixão popular semelhante à devotada à Lula em outros tempos.

Morta precocemente de câncer aos 33 anos, seu cadáver foi embalsamado numa técnica lenta e sofisticada do médico espanhol Pedro Ara que o transformou numa boneca de marfim que suportasse a maratona de homenagens com que o regime populista de seu viúvo Juan Domingo Perón planejava explorar o seu prestígio.

Depois de um velório de dias, ficou exposto num esquife de vidro na Central Geral dos Trabalhadores (CGT), espécie de sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, útero, berço e coração do caudilho mais marcante da história daquele país.

O velório prosseguiu aí pelos três anos seguintes, em romarias semi religiosas que incomodou o novo regime implantado por um dos tantos golpes militares em que o país é especialista, a Revolução Libertadora do general Pedro Aramburu, de 1955.

Com o movimento peronista reivindicasse o corpo e se temia novas romarias em qualquer lugar que fosse enterrado, o Serviço de Inteligência do Exército o confiou a um capitão que o guardou em seu apartamento. Até o dia em que se soube que ele andava o bolinando em encontros regados a bebedeiras com amigos.

Resgatado de novo pelo Exército, passou por outras mãos e outras casas até ser redescoberto no esconderijo que parecia perfeito, atrás da tela de um velho cinema que estava por ser demolido.

Dali, desapareceu por quatorze anos até ser encontrado com o nome de Maria de Magistris, no cemitério de Milão, um tanto quanto violado: sem uma das mãos, o nariz amassado, um afundamento no peito.

Por essa época, início dos 70, o general Aramburu havia sido morto pelo grupo de terroristas peronistas Motoneiros e outro general, Alejando Lanusse, tentava a pacificação do país.

Entregou-o a Perón, então em exílio na Espanha, que o guardou na garagem de sua casa em Madri, até reassumir o poder em 1973, e o levá-lo de novo para o local de origem, a Casa Rosada.

Conta-se que, por mais de uma vez, Isabelita Perón, a terceira mulher do caudilho que ambicionava carreira política à sombra da antecessora famosa, foi vista penteando-o com enlevo em noites solitárias.

Foi tudo muito bem até 1977, quando o mais duro da série de ditadores da mais longa e dura ditadura militar, Jorge Rafael Videla, mandou enterrá-lo no humilde mausoléu da família Duarte, seu sobrenome de solteira, no cemitério de La Recoleta, onde se encontra, sem mais qualquer vestígio das romarias de 30 anos antes.




Cadáveres políticos

Tomás Eloy Martinez investigou a fundo a história para seu grande Santa Evita, de onde tirei essas informações, para tratar de certa fixação de seu povo por militares e necrofilia.

O que me ensinou, além disso, foi que cadáveres políticos têm data de validade como instrumentos de marketing. Podem ser utilizados num primeiro momento para passeatas ou romarias religiosas, mas com o tempo e a virada da história, eles perdem sentido e respeito.

Evita Perón poderia ter prolongado sua estada de pé sobre a terra se concedesse pequena parte de seu dia para tratar do câncer descoberto a tempo.

Mas ela tinha pressa e uma agenda de 20 horas de trabalho tresloucado para firmar sua marca na multidão que a amava, em saborosa vingança contra a elite que a desprezava.

Poderia morrer mais velha e esquecida, mas com dignidade, não no papel um tanto ridículo que a vida lhe reservou depois de morta.

Foi uma espécie de suicídio, decorrente de ambição e falta de cuidado para combater o que todo mundo ao seu redor percebia.

— Eu não sabia — parecia dizer quando a pressão ao redor aumentava.

Lula venceu seu câncer na garganta, em 2011, mas não teve tempo e coragem de combater os outros cânceres que foram brotando à sua volta, apesar de largamente advertido.

Acabou mais velho e vivo, mas não com tanta dignidade. Com o mesmo risco de virar um cadáver político, embalsamado, sem sentido e sem respeito.

Desejo sinceramente que dê a volta por cima como pessoa e chefe de família. E que a história lhe seja menos severa.



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Sobre Ramiro Batista

Sou escritor e jornalista formado em Letras e Literatura, Comunicação e Marketing, experiente em escrever, editar, publicar, engajar e promover pessoas e ideias. Compartilho tudo o que sei sobre o uso de ferramentas de comunicação para conquistar e manter poder.

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