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Ramiro Batista

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A jornada do herói e por que futebol e épicos não dão bons roteiros

7 de março de 2019 por Ramiro Batista Deixe um comentário

A jornada do herói e por que futebol e épicos não dão bons filmes

O principal que você precisa saber sobre a jornada do herói é que, como o próprio nome diz, é do, de um herói. Refere-se a um, não a dois ou mais.

Como você, sua experiência e sua história, são únicos.

Se você tem ainda alguma dúvida sobre usar a jornada do herói na sua estratégia de envolvimento do seu leitor/telespectador/ouvinte, saiba que essa é a primeira condição.

Grandes livros, filmes e séries se assentam em grandes histórias de superação do indivíduo isolado, provocado a sair de sua zona de conforto.

Enfrenta um desafio e falha, enfrenta de novo, supera e volta pra casa redimido e maior do que saiu. No meio, encontra a moça, perde a moça e recupera a moça.

>>> Veja meu artigo Uma fórmula simples de estruturar seu texto para contar sua história

Você terá que concentrar em uma só pessoa, no seu herói, tudo o que você quer dizer sobre um fato, um grande acontecimento, uma época.

Roteiros fortes traduzem no protagonista todos os males do mundo. Como já escreveu Fernando Pessoa:

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Pegue todo grande livro, filme, série, novela ou peça de teatro. É sempre história de um grande personagem em sua busca de superação e felicidade.

  • O Leopold Bloom de Ulysses ou o Dom Quixote de La Mancha.
  • O  Neo de Matrix ou Luke Skywalker de Star Wars.
  • O Odorico Paraguassu de O Bem Amado ou o Roque Santeiro da novela com seu nome.
  • O Tony de Os Sopranos ou o Walter White de Breaking Bad.
  • O Willy Loman de A Morte do Caixeiro Viajante ou a Blanche Debois  de Um Bonde Chamado Desejo.

Ocorre que é mais fácil se envolver com o drama de uma pessoa do que de o de uma multidão.

Como escreveu o maior dos biógrafos brasileiros, Ruy Castro, na Folha de S. Paulo, sobre a falta de grandes obras de ficção dedicada ao futebol, mesmo no Brasil, a terra dele:

Talvez os esportes coletivos não se prestem à ficção – pelo menos, com os jogadores como personagens. Onde estão os grandes romances americanos sobre basquete? Ou portugueses, sobre hóquei em patins? Ou escoceses, sobre curling? Ao mesmo tempo, quantos boxeurs, jóqueis, nadadores, corredores de Fórmula 1, enxadristas e outros esportistas isolados já não renderam ficção interessante? O futebol tem muito de épico, mas, em letra de forma, o drama ou tragédia individual é mais comovente.

Drama pessoal é mais forte

Sim, as tragédias pessoais são mais comoventes.

A foto de uma criança que aparece morta na praia, solitária, é mais forte como argumento do que toda a gritaria contra a emigração desesperada da África para a Europa.

Também nos filmes, a dor de um homem fala mais do drama de um país e de uma época do que uma abordagem de massa, de grandes populações sofridas.

Tramas fortes de um homem só podem denunciar mais uma época do que grandes dramas épicos e dispensar o autor, o roteirista ou o diretor de grandes narrativas de massa, com centenas, milhares de figurantes.

Veja o caso de O Porteiro da Noite (Il Portiere di Notti), sobre a hóspede de um hotel em Viena que descobre no porteiro o carrasco nazista que a torturou.

O filme da italiana Liliana Cavani é um libelo mais forte sobre os estragos irreversíveis do Holocausto na alma do que um épico de dez horas sobre o drama da Segunda Guerra.

Um paralelo é A Lista de Schindler (Schlinder’s List), de Steven Spielberg, de bem menos força que o drama visceral de submissão da vítima ao porteiro .

Steve trabalha aqui a jornada do seu herói, o empresário Oskar Schlinder na sua saga para salvar mais de mil judeus. Mas seu projeto é criar impacto com a multidão de miseráveis a caminho dos fornos de cremação. 

Outra boa comparação é com os dois filmes que trataram de escravidão e ganharam o Oscar de melhor roteiro, original e adaptado, de 2013 e 2014.

Django Livre (Django Unchained), de Quentim Tarantino, sobre a história do escravo que se vinga de um senhor, é alguns decibéis mais potente que o drama de feição coletiva de 12 Anos de Escravidão (12 Years A Slave).

Não me esqueço de Gaijin, um filme de poucos recursos da nipo-brasileira Tizuka Yamazaki.

Ela encapsula no drama de uma família de imigrantes todo o sofrimento das gerações de diferentes países que vieram sofrer nas lavouras brasileiras, a partir do final do século XIX.

Futebol dilui o heroísmo do roteiro

Sobre futebol, da tese de Ruy Castro, só me lembro de um filme relevante e fracasso de bilheteria, sobre um time instado a jogar sob o nazismo para disfarçar uma fuga: Fuga para a Vitória (Escape To Victory).

Veja que se trata de um time, não de um herói diante de seu destino. Com o agravante de que a bola do heroísmo ainda acabou dividida entre Pelé e os atores Sylvester Stallone e Michael Caine.

Curioso que tenha saído das mãos, ou de uma escorregada em campo, de John Houston, um dos icônicos diretores de Hollywood.

Com um currículo de 45 grandes filmes, deixou heróis solitários e cínicos insuperáveis, como o Sam Spade de Humphrey Bogart em Relíquia Macabra (The Maltese Falcon) ou o Charley Partanna de Jack Nicholson em A Honra do Poderoso Prizzi (Prizzi’s Honor).

O que remete ao conceito da jornada do herói, isolado em sua saga.

O futebol brasileiro é cheio de heróis isolados que arrastaram multidões, numa dinastia de deuses estupendos: Pelé, Garrincha, Didi, Domingos da Guia, Leônidas da Silva, Nilton Santos, Tostão, Zico, Ronaldo, Ronaldinho, Neymar…  A saga de cada um deu e anda pode dar grandes livros e filmes.

Mas a história do futebol em seu quadrilátero se dilui nos 11 heróis que precisam compartilhar esforços e dividir seus atos heróicos.

Nenhuma história poderá falar da vitória colossal de um time sem reconhecer o esforço conjunto. Heróis isolados no quadrado não vão muito longe e têm sempre o esforço do grupo para justificar sua superação.

Menos ainda, como material de livro ou cinema, é colocar um país como herói, como se tenta sempre que se fala ou se escreve crônicas de futebol.

Ainda que esse país seja o Brasil e tenha descoberto nele sua identidade e sua capacidade de superação, quando virou herói do mundo na Copa de 1958.

Artigos de viés racista na imprensa europeia duvidavam do sucesso de um país latino-americano na Copa da Suécia, por conta de seus recalques ancestrais: imaturidade, vulnerabilidade emocional e falta de preparo psicológico.

A reação do time multi-étnico do técnico Feola, com Pelé e Garrincha à frente, soou como um desagravo.

Contaminou os intelectuais da época e ajudou a cristalizar a teoria da mestiçagem criativa, a de que a mistura dos trópicos produziu um povo cheio de ginga capaz de dominar o mundo com seu improviso.

Nelson Rodrigues, que dizia que os escritores brasileiros “não sabem nem bater uma lateral”, cunhou à época que…

O futebol fez o brasileiro superar o seu complexo de vira-latas.

Gilberto Freyre, o genial autor de Casa Grande & Senzala e dessa teoria, voltara à moda:

Os nossos passes, os nossos pitus, os nossos despistamentos, os nossos floreios com a bola, alguma coisa de dança de capoeiragem que marca o estilo brasileiro de jogar futebol, que arredonda e às vezes adoça o jogo inventado pelos ingleses. Tudo isso para exprimir de modo interessantíssimo para os sociólogos o mulatismo flamboyant e, ao mesmo tempo, malandro que está hoje em tudo que é afirmação verdadeira do Brasil.

É como, se vê, o heroísmo de um país. Mas países como protagonistas, como se sabe, também não dão bons livros, filmes e séries.

Fuga para a Vitória - Divulgação
Pelé, Stallone e Michael Caine no último e fracassado filme sobre futebol

Veja livros sobre escrever roteiros:

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Sobre Ramiro Batista

Sou escritor e jornalista formado em Letras e Literatura, Comunicação e Marketing, experiente em escrever, editar, publicar, engajar e promover pessoas e ideias. Compartilho tudo o que sei sobre o uso de ferramentas de comunicação para conquistar e manter poder.

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